9.9.07


closed eyes
kind stillness
of your face
my heart awakes

(luiz antônio gusmão)

11.11.06

Umbra mortis 2

[Living and Dying, Dave Lawrence]
No meio da noite, olha à sua volta. Meu Deus, o que é essa torre imensa e negra que desponta? A velha torre que sempre ficara confinada no fundo de sua alma quando rapaz. Porém, há pouco, no turbilhão, esquecera-se completamente da terrível torre, a velocidade o abismo haviam-no feito esquecer-se da existência da inexorável imensa torre negra. Como pudera esquecer-se uma coisa tão importante, a mais importante de todas? Lá estava ela novamente, erguendo-se terrível e misteriosa como sempre, ou melhor, até parecia maior e mais próxima. Sim, o amor o fizera esquecer-se completamente de que a morte existia. Durante quase dois anos não pensara nela uma só vez, parecia uma fábula, logo ele, que sempre a sentira obstinadamente em seu sangue. Tamanha era a força do amor. E agora de repente ela reaparecia à sua frente, dominava a ele a casa o bairro a cidade o mundo com a sua sombra e avançava lentamente.
Ela, no entanto, entregue ao sono, inconsciente do mal que fez e que fará, balança-se sob os telhados os postigos os terraços os campanários de Milão, é uma coisinha jovem miúda e nua, é um macio e branco grão suspenso é um polvilho de carne, ou de alma talvez, levando dentro de si um sonho adorado e impossível. Através da bruma a luz avermelhada dos lampiões ainda acesos iluminava-a suavemente fazendo-a resplandecer com piedade e mistério. É a sua hora, sem que ela saiba chegou para Laide a grande hora da sua vida e talvez amanhã tudo será como antes e recomeçará a maldade e a vergonha, mas por enquanto, por um instante que seja, ela está acima de todos, é a coisa mais linda, preciosa e importante da Terra. Mas a cidade dormia, as ruas estavam desertas, e ninguém, nem mesmo ele, levantará os olhos para olhá-la.
[Dino Buzzati, Um amor]

4.11.06

Heart of Darkness

[Night Escapes 1, Pedro de Caldas Gomes]
respiro o silêncio
da noite mais forte
a noite em seu ventre
de amor e de morte
[luiz antônio gusmão]

28.10.06

Fedro


"Cheguei até a ler um livro que tinha o seguinte título: Elogio do Sal. O seu sábio autor louvava aí as admiráveis qualidades do sal e os grandes serviços que ele presta ao homem. Uma porção de outras coisas foram assim cantadas. Tanto trabalho para isso! O amor não encontrou, porém, até hoje, quem o celebrasse! Como se explica que um deus tão poderoso é assim desprezado? Quanto a mim, creio que Fedro tem razão. E assim, desejo de minha parte louvar a Eros, e penso que bem ficaria a todos nós aqui presentes empreender a glorificação desse deus."
(Fedro, Platão)

30.9.06

Opções?

[Brasil pela Janela, Pedro de Caldas Gomes]

Meu partido, é um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito, eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo, haha mudar o mundo
Assiste agora à tudo em cima do muro
[...]
Ideologia, eu quero uma pra viver...
(Ideologia, Cazuza/Frejat)

23.9.06

Fiat lux

[Turn on the light, Pedro de Caldas Gomes]
Donald Hall

Pale gold of the walls, gold
of the centers of daisies, yellow roses
pressing from a clear bowl. All day
we lay on the bed, my hand
stroking the deep
gold of your thighs and your back.
We slept and woke
entering the golden room together,
lay down in it breathing
quickly, then
slowly again,
caressing and dozing, your hand sleepily
touching my hair now.

We made in those days
tiny identical rooms inside our bodies
which the men who uncover our graves
will find in a thousand years,
shining and whole.

16.9.06

Umbra mortis

[Ghost Stories, Pedro de Caldas Gomes]

"Verrà la morte e avrà i tuoi occhi"
Cesare Pavese

Verrà la morte e avrà i tuoi occhi -
questa morte che ci accompagna
dal matino alla sera, insonne,
sorda, come un vecchio rimorso
o un vizio assurdo. I tuoi occhi
saranno una vana parola,
un grido taciuto, un silenzio.
Cosí li vedi ogni mattina
quando su te sola ti pieghi
nello specchio. O cara speranza,
quel giorno sapremo anche noi
che sei la vita e sei il nulla.

Per tutti la morte ha uno sguardo.
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi.
Sarà come smettere un vizio,
come vedere nello specchio
riemergere un viso morto,
comme ascoltare un labbro chiuso.
Scenderemo nel gorgo muti.

22 marzo 1950